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OBITUÁRIO PROF. DR. LUÍS RIOS DE MOURA BAPTISTA (1936-2025✝︎)

in Notícias 7 de janeiro de 2025

(Foto Gustavo Diehl – UFRGS)

O Prof. Dr. Luís Rios de Moura Baptista nasceu em 22 de novembro de 1936 e faleceu em 02 de janeiro de 2025, em Porto Alegre. Filho do Desembargador Homero Martins Baptista e de Clotilde Moura Baptista, foi professor e pesquisador por mais de 60 anos na Universidade Federal do Rio grande do Sul – UFRGS, lotado no Instituto de Biociências, Departamento de Botânica, bem como precursor na área de Ecologia na UFRGS. Casou-se em 15 de dezembro de 1972 com a então colega Maria Luisa Lorscheitter, tendo com esta, dois filhos. Em 23 de setembro de 1988 casou-se pela segunda vez com Marinês Garcia, não tendo filhos neste segundo casamento.

O Prof. Baptista representa um dos pilares da construção do Departamento de Botânica. Sua atividade de ensino e pesquisa caracterizou-se por uma percepção visionária, antevendo a necessidade de desenvolvimento de campos inexistentes nos primórdios do Departamento, como a implantação do setor de Ficologia e da área de Ecologia Vegetal, bem como o desenvolvimento da Taxonomia de Angiospermas. 

Sua trajetória se inicia em 1956 quando ingressa no Curso de História Natural, formando-se em Bacharelado em 1958 e Licenciatura em 1959. Em 1957 e 1958 foi aluno-assistente na Secção de Botânica Tecnológica no ITERS- Instituto Tecnológico do Estado do Rio Grande do Sul, que funcionava junto ao Instituto de Ciências Naturais da UFRGS, analisando lâminas histológicas de madeiras do Rio Grande do Sul. Foi contratado pela Universidade como Professor Instrutor de Ensino, na Cátedra de Botânica coordenada pelo Prof. Dr. Alarich R. Schultz, em 1962, permanecendo nesta categoria até 1967, ano em que foi promovido a Professor Assistente. Manteve-se assim até 1977, quando passou à categoria de Professor Adjunto, permanecendo no cargo até 1985. Neste ano prestou concurso público para Professor Titular, atuando até 1990, quando, ao aposentar-se, passou a Professor Colaborador Voluntário do Departamento de Botânica e do Programa de Pós-Graduação em Botânica até 1993. De 1993 a 2014 foi Professor Colaborador Convidado do Programa de Pós-Graduação em Botânica, e de 1993 até a atualidade, Professor Colaborador Convidado do Departamento de Botânica. Exerceu os cargos de Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Botânica de 1976 a 1979 e de Chefe do Departamento de 1984 a 1985.

O início de sua carreira, na área da pesquisa, foi marcado pelo estudo das Algas e da Ecologia Vegetal. Em 1961 recebeu uma bolsa da Reitoria da Universidade de São Paulo – USP. Seus estudos resultaram em 1974 na conclusão da Tese de Livre Docência sobre a “Flora Marinha de Torres- Rio Grande do Sul”, defendida em 1975, que lhe valeu também o título de Doutor, dando início à área de Ficologia no antigo Curso de Pós-Graduação em Botânica, criando a disciplina – Algas Marinhas Macroscópicas.

Seu pioneirismo em ensino pode ser destacado pela criação da disciplina “Ecologia Vegetal”, em 1967, no Curso de Graduação em História Natural da UFRGS (hoje Curso de Ciências Biológicas). Em 1968 estagiou na Universität Göttingen, Alemanha, sob a orientação do renomado Prof. Dr. Heinz Ellenberg, em Fitossociologia, permanecendo até 1969. Foi docente e orientador de mestrado e doutorado no Curso de Pós-graduação em Botânica e colaborador no Curso de Pós-graduação em Ecologia, ambos na UFRGS, especialmente em Fitogeografia, Fitoecologia de comunidades e populações, além de disciplinas práticas de campo. Foi o primeiro professor a lecionar para os biólogos a disciplina Fitossociologia, trazendo e transmitindo os conhecimentos adquiridos em seu aperfeiçoamento na Alemanha.

O Prof. Baptista participou da criação do “Núcleo Interdepartamental de Estudos Ecológicos – NIDECO”, sob a coordenação do Prof. Tuiskon Dick. Foi também membro da Comissão Coordenadora do NIDECO e participante da criação de um dos primeiros Cursos de Pós-Graduação em Ecologia do Brasil, aqui na UFRGS. Mais tarde, em 1982, o NIDECO se transformou no Centro de Ecologia.

A participação do Prof. Luís nesses dois programas é muito significativa, tendo formado quarenta e três Mestres em Botânica e Ecologia e treze Doutores em Botânica. Por suas mãos levou muitos estudantes aos caminhos da ciência, através de orientações de Iniciação Científica. Sua produção científica compreende mais de sessenta trabalhos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros, dois livros, além de sua participação na tradução da 36ª edição do “Tratado de Botânica” de Strassburger e a Coordenação da revisão da 4ª edição do livro “Introdução à Botânica Sistemática” do Prof. Alarich Schultz e ainda a Revisão Técnica da tradução da obra “Biologie et Phylogénie des Algues” do Prof. Dr. Bruno de Reviers.

Sua preocupação permanente com a flora e a vegetação do Rio Grande do Sul está demonstrada por suas atividades ligadas a “Preservação Ambiental”, fazendo parte da “Comissão Verde”, na década de 70, para indicação de áreas para conservação no Estado, na década de 80 participando do grupo de trabalho da Assembleia Legislativa para elaboração do “Código Florestal” e do “Código Ambiental” do Estado, na década de 90 como Coordenador do grupo de trabalho para elaboração da “Lista de Espécies Ameaçadas da Flora do Rio Grande do Sul”, que resultou no Decreto Estadual nº 42099, de janeiro de 2003, com a lista das espécies ameaçadas no Estado.

Na virada do milênio, foi membro do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica do Rio Grande do Sul como representante da UFRGS e representante da Comunidade Científica (Região Sul) no Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. No início dos anos 2000 foi representante da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN na Câmara Técnica de Florestas e Biodiversidade do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) do Rio Grande do Sul e participou do grupo de trabalho para elaboração da “Nova Lista de Espécies Ameaçadas da Flora do Rio Grande do Sul”, processo que resultou no Decreto Estadual 52.109 de 1º de dezembro de 2014.

O Prof. Luís retinha em sua memória a Flora do Rio Grande do Sul e dos Estados vizinhos. A floresta Atlântica, situada no Município de Torres e seus arredores, foi a sua “menina dos olhos”, a ponto de ter adquirido terras, no agora, Município de Dom Pedro de Alcântara, e as conservado com sua fisionomia e composição original na expressão de Floresta Ombrófila densa de terras baixas (Mata Atlântica). A floresta de Dom Pedro de Alcântara se tornou o laboratório natural para os estudos botânicos e ecológicos sobre Mata Atlântica, resultando inúmeros trabalhos científicos, dissertações e teses. Em 2009, O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade publica a Portaria n.52, de 26 de junho deste ano, criando a “Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN Mata do Professor Baptista”, doada por ele em 2024 ao Instituto Curicaca para sua administração e manejo.

A importância do Prof. Luís Baptista na região sul do Brasil lhe valeu duas distinções extremamente destacadas no âmbito estadual e nacional, quais sejam a “Medalha Conservacionista”, conferida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e o “Destaque Florestal – Pesquisa”, conferido no Congresso Florestal Estadual em Nova Prata, RS. Além disso, obteve o reconhecido pela UFRGS, outorgando-lhe, em 2016, o título de Professor Emérito e pela Sociedade Botânica do Brasil- SBB, em 1990, o título de Sócio Benemérito. Seu nome foi homenageado por colaboradores científicos na denominação de uma espécie nova de pteridófita, denominada Isoetes mourabaptistae Pereira et al. (American Fern Journal 102 (2): 174-180) e uma espécie nova de Mimosoideae, denominada Mimosa baptistae Schmidt-Silveira & Miotto (Acta Bot. Bras. 33(4): 716-723).

Cabe ainda destacar, que o Prof. Luís nos deixou uma série de resultados positivos de suas ações em relação à conservação da natureza, participando ativamente de Comissões, Coordenações e dando pareceres para ações decisórias, que hoje em dia fazem parte da Legislações Ambientais.      

Seu conhecimento botânico era excepcional, somado a uma cultura geral de surpreender os colegas e alunos. Era exímio leitor e colecionador de livros, especialmente os de cunho técnico. Seu acervo particular muito ajudou a elaboração de artigos científicos, dissertações e teses.

O Prof. Luís era uma pessoa de sensibilidade acentuada, amava a música erudita e dela se deliciava em vários momentos da vida, sendo isso e as expedições junto a natureza seu principal lazer. 

O Prof. Luís foi um verdadeiro Mestre para muitos botânicos brasileiros, não só mestre em conhecimentos transmitidos, mas em especial, em relação a sua postura, dignidade, justiça, humanismo e paciência invejável, tratando os colegas e alunos com delicadeza e respeito, o que o fez amado por todos. 

O Professor, apesar de pouco se manifestar oralmente, afora em suas aulas, quando o fazia se pronunciava de uma forma lógica, embasada em conhecimento e justiça, exercendo o papel moderador e conciliador que todos admiravam. Esse, em nosso entender, foi um dos grandes legados do professor.

Para seus alunos, colegas e colaboradores fica a saudade de um colega fabuloso, um profissional exemplar e uma grande pessoa, querida e amada por todos.  

Luís, tu ficarás para sempre nos nossos corações.                 

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